Por Alina Purvinis (CRP: 06/1828-1)
1. Por que fazer terapia, se existem tantos remédios para insônia, depressão, ansiedade, etc.?
Sem dúvida nenhuma, a psicofarmacologia evoluiu muito, e um grande número de pessoas tem se beneficiado com o uso dessas drogas.
Porém, não devemos esquecer que são substâncias químicas introduzidas no organismo, que tem efeitos colaterais, e que podem gerar dependência, levando à necessidade de uso constante (às vezes pelo resto da vida), e também o aumento da dosagem para se obter o mesmo efeito. Não podemos esquecer também das interações medicamentosas e do uso simultâneo com bebidas alcoólicas , além da ingestão (acidental ou intencional) de uma dosagem excessiva, que podem levar a estados graves e até mesmo à morte.
Portanto, a medicação deveria ser utilizada apenas em casos em que é absolutamente necessária, e sob rigorosa supervisão médica de um psiquiatra, que é o profissional especializado nessa área. Hoje, sabemos que muitos médicos de qualquer outra especialidade receitam anti-depressivos e ansiolíticos, o que não é adequado.
Além disso, lembramos que os remédios aliviam os sintomas, mas não trabalham com as causas emocionais subjacentes desses distúrbios, que só podem ser atingidas através da psicoterapia.
A psicoterapia bem conduzida, na maioria dos casos, pode eliminar a necessidade da medicação ou reduzi-la ao menor tempo possível. Nos casos em que há necessidade da medicação a longo prazo, os melhores resultados são obtidos com a combinação de remédios e psicoterapia.
2. Por que fazer terapia, se existem tantos livros de auto-ajuda sobre todo tipo de dificuldades?
A literatura de auto-ajuda é um ramo que tem proliferado muito, dificilmente se encontra alguém que não tenha lido um desses livros.
Existem alguns livros muitos bons, escritos por profissionais da área de saúde mental (psiquiatras, psicólogos, psicoterapeutas, psicanalistas) que divulgam conhecimentos importantes e compartilham a sabedoria adquirida em anos de estudo e prática profissional – às vezes, chego a recomendar a leitura de algum deles para meus clientes, dependendo do momento da terapia e do tipo de dificuldade com que estamos lidando.
No entanto, é importante lembrar que os livros de auto-ajuda podem trazer informações e uma compreensão intelectual do problema. Na hora de propor soluções, entretanto, propõem fórmulas que não levam em consideração a individualidade de cada pessoa, sua estrutura psíquica, seu nível de conscientização, sua história de vida...
O que acontece é que, simplesmente, o leitor não consegue colocar em prática as soluções propostas, aumentando a frustração e reduzindo sua auto-estima.
Somente a psicoterapia pode ajudar a pessoa a descobrir suas próprias soluções para dificuldades específicas, respeitando suas individualidades e seu ritmo de desenvolvimento. Além disso, vale lembrar que a leitura é uma experiência solitária, e que nós precisamos do outro, do diálogo, para crescer e evoluir.
3. Por que fazer terapia, se estou insatisfeito(a) com meu corpo, e hoje existem cirurgia plástica, procedimentos cosméticos, cirurgia de redução do estomago, que podem eliminar os meus problemas?
Certamente, se a pessoa quer simplesmente melhorar sua aparência, com a ajuda de um profissional qualificado (cirurgião plástico certificado, dermatologista, cirurgião dentista especializado) e tem recursos financeiros para isso, por que não?
Da mesma forma, se uma pessoa sofre de obesidade mórbida que coloca sua vida em risco e não consegue emagrecer, deve sem dúvida candidatar-se a uma cirurgia bariátrica (redução de estomago).
Porém, é preciso esclarecer que esses procedimentos não vão libertar a pessoa, magicamente, de sentimentos de inferioridade arraigados, falta de auto-estima relacionada a eventos de sua história de vida, muitas vezes ocorridos na infância, e tampouco vão atuar sobre sua compulsividade... muitas vezes, o que aconteceu é que a pessoa torna-se um cliente habitual das clínicas de cirurgia plástica, sempre encontrando um novo defeito no seu corpo e sempre encontrando alguém disposto a oferecer mais um procedimento cirúrgico para elimina-lo. Na verdade, o sujeito não se aceita e quer se transformar numa outra pessoa, o que evidentemente, é impossível. Isso sem falar dos casos em que há uma cirurgia mal feita, e a pessoa fica pior que antes, ou até mesmo morre em conseqüência do procedimento.
No caso da compulsão, é freqüente que o sujeito desloque a compulsão pela comida para outra, tal como álcool ou jogo, apenas trocando um problema por outro.
A psicoterapia pode ajudar a pessoa a se auto-aceitar, pode fortalecer sua auto-estima, ajuda-la a controlar a ansiedade, libertando-se do comportamento compulsivo.
4. Por que fazer terapia, se existem tantas práticas alternativas (acupuntura, massagem, yoga, reiki, florais, etc., que podem ajudar?
Exatamente, essas práticas podem ajudar e muitas vezes funcionam como um complemento da psicoterapia, favorecendo o equilíbrio da energia no organismo. A combinação da psicoterapia com a homeopatia, a acupuntura, a medicina chinesa, tem muitas vezes um resultado excelente, principalmente para as pessoas que preferem tratamentos mais naturais.
No entanto, essas práticas trabalham com a energia, e não diretamente com os conflitos psicológicos, com os pensamentos, crenças, sentimentos, emoções e, portanto, não podem levar a uma conscientização de como a estrutura da personalidade e a dinâmica individual conduzem o individuo a becos sem saída, a repetições de padrões destrutivos de relacionamento e outras questões que só o trabalho sobre si mesmo, a busca do auto-conhecimento, pode proporcionar. É claro que essas práticas podem contribuir, eventualmente, para criar condições mais favoráveis para o trabalho psicoterápico, porém uma coisa não substitui a outra.
Precisamos ter cuidado, também, com “modismos”, processos de curtíssima duração que prometem mudanças radicais. O processo de auto-conhecimento e auto-transformação é muitas vezes lento e gradual, porém é assim que construímos uma base sólida de auto-confiança, a partir de um reconhecimento e aceitação tanto do nosso potencial quanto de nossas limitações.